terça-feira, junho 02, 2009

Parabéns Luis

Faz hoje 31 anos que ganhei/me impingiram um irmão e faz portanto 31 anos que a minha existência mudou completamente.


Aliás a presença dele começou por alterar os meus ritmos ainda antes de nascer, quando na véspera Dia Mundial da Criança fez a minha mãe dar entrada no hospital e me privou da companhia dela.


Lá safou que antigamente não era hábito os pais irem dar apoio moral às mães na hora de parir e o meu pai me levou ao Estádio Municipal para ver o Avô Cantigas e etc.. e ainda recebi um capacete cor de laranja para andar de mota com o meu paizito.


Apesar de anos mais tarde se vir a verificar que se calhar precisava do dito capacete mas era para me proteger da criatura a nascer daí a umas horas.


Apesar de me lembrar muito pouco dessa idade, recordo que acolhi com algum agrado a ideia de ter um irmão (a isto chama-se completa ignorância) e parece que partilhei esses segundos de alegria com quem me rodeava até ao momento em que a "criatura" começou a chorar.


Eu, completa seguidora de boas acções e da santinha Madre Teresa de Calcutá, fiquei cheia de pena e disse: Oh! coitadinho do bébé tem saudades da mãe dele!


E pronto, foi neste momento que deixei de ver o mundo cor-de-rosa que acreditava existir até à data, porque decidiram esclarecer-me que a mãe dele era a minha.


Não me lembro, é claro, da cara que fiz, mas imagino que deve ter sido qualquer coisa do género:


Tou perdida, é o meu fim, o que será do resto da minha vida ?????


Sim! Porque esta veia melodramática que faz parte da minha personalidade, deve ter brutado em mim nessa precisa altura.


Não havendo alternativa, tive que me conformar com a presença da "criatura" à qual deram o nome de Luis (do avô materno) e Fernando (do nosso pai) e ir convivendo com ele da melhor maneira possível.


Claro está, e só quem não tem irmãos mais novos é que não constatou isto, que nós, os irmãos mais velhos é que temos sempre a culpa da Trampa que os "piquenos" fazem.


Mesmo quando eles agridiam o nosso bem estar físico e psicológico, éramos nós os culpados porque de certeza que lhes dissemos ou fizemos qualquer coisa que provocou a reacção de nos atacarem...


E lá vinham as frases standarizadas do tipo: Cuidado que o menino é pequenino! O que é que lhe fizeste! Tu és mais velha tens que o defender!


E agora pergunto???? Quem é que me defendeu a mim????


Quando ele, vá-se lá saber porquê, sem mais nem menos, começava a tremer o queixo, fazia um biquinho com os lábios, formavam-se duas covas nas bochechas e abria as goelas em altos gritos a acusar-me nem ele próprio sabia de quê...


Como no dia em que fez três anos e eu devo ter pensado para mim: "Bem! hoje faz três anos de existência da criatura, eu trato-o bem e brinco com ele, os pais ficam contentes e tudo corre maravilhosamente".


Ingénua, sou mesmo ingénua eu!!!


O meu plano começou bem, fui brincar com ele com um fantoche enquanto dizia "Olá Luis", "Hoje fazes três aninhos", tudo corria bem até que a "criatura" se pôs em posição, começou-lhe a tremer o queixou e gritou bem ALTO: "Oh! mãe a Xana bateu-me!"


Vem de lá tudo em fúria, a perguntar porque é que eu batera na criança e por mais que dissesse que não lhe tinha feito nada, ninguém acreditva em mim.


Até que, em determinado momento, lhe começaram a crescer as beiças e lá concluiram que tinha sido uma abelha a morder-lhe.


Mas, claro, primeiro a triste da Alexandra Margarida foi ao Castigo...


Felizmente a vingança tarda mas não falha e ele andou o dia todo de beiçola inchada!


Ora, agora a levantar falsos testemunhos...


Cenas destas repetiram-se durante todo o crescimento da "criatura", que era um bocado indío, satanás, viperino, etc...


Mas no outro dia a Inês e a Bá decidiram dormir juntas a dar miminho de manas (isto não é sempre) e a mim deu-me uma grande sensação de nostalgia e disse para elas:


Fazem bem, as manas são amigas, e têm que aproveitar agora que vivem juntas.


Porque apesar do meu irmão ser um bocado terrorista, se eu soubesse que em adulta só o ia ver uma a duas vezes por ano, tinha-o deixado enfiar-se mais vezes na minha cama quando via filmes que não eram bem para a idade dele e depois chorava cheio de medo ou quando me chantageava para eu lhe comprar batatas fritas ou contava aos pais que eu namorava ou fumava uns cigarritos (vejam bem como era ordinarito!!!)


Mas também era com ele que partilhava segredos, angústias, tristezas e alegrias.


Quem não tem um irmão/irmã não tem quem lhe cubra os disparates da adolescência, as fugas, o asneiredo e também não tem a quem dar um abraço bem apertadinho com toda a certeza que aquele vem do fundo do coração.


Portanto, apesar dos danos psicológicos que a sua existência terrorista marcou em mim, ficaram muito mais visíveis os sentimentos de partilha e amizade e agora a saudade que não há internet nem telefone que a diminua.


Por isso, PARABÉNS BILLY!!! (e ainda bem que a mãe o o pai decidiram brindar-me com a tua presença. Ou não! Porque isso nunca vou saber, não é???)






3 comentários:

Leonor Correia disse...

Li os post em atraso, era desde a cena da mãe cansadiíssima. adorei e ri-me muito. Escreves muito bem,estás com ar de ser uma mulher feliz, vi isto tudo através da escrita. Continua.

Leonor Correia disse...

os post são todos o máximo, por isso não vou escolher nenhum em especial. Também quero um para mim.

Alexandra Caeiro disse...

Realmente tens um jeito para escrever... não consigo escolher um post favorito, mas em todos me fazes rir e comover. Pronto ok, choramingar, que eu sou uma torneirinha como diz o meu Noivo.
E embora não ande sempre actualizada, sempre que venho ler as actualizações releio tudo e elogio-te a toda a gente.
E o que quero mesmo escrever aqui é:
- Quando for grande quero ser como tu!